domingo, 25 de abril de 2010

Os conservadores e o movimento.



Quando os conservadores começam a alardear sua revolta e a blasfemar contra o tempo presente é porque as mudanças atingiram um ponto sem volta, irrevogável. Os possíveis argumentos contrários, que exprimiriam seus receios diante das mudanças, esgotaram-se; por isto, passam a tomar a forma de ataques, disfarçados ou não, e acusações absurdas e irracionais que aludem, por vezes, ao conspiratório. É nesse momento que palavras como "inadimissível", "vergonha", "decadência", "inversão de valores" começam a pipocar repetitivamente.

Por isso, antes de indignar-me com a histeria e os ataques desleais e preconceituosos dos conservadores, alegro-me por notar que as irrupções que acenevam para uma possível nova configuração do mundo e que prometiam sacudir e interrogar o estado das coisas, isto é, o mundo monótono e seguro dos conservadores, inscreveram-se, nesse momento, de maneira definitiva em nossa experiência histórica, fazendo visível, por direito, vozes e práticas antes sufocadas, conferindo-lhes um lugar legítimo e assegurado no mundo.

A reação conservadora, que por vezes utiliza-se de meios tão ridículos quanto se valeram alguns estudantes de Farmácia da USP, é um remorso estéril cujo intuito impossível é frear o movimento e a força de mundo em vias de mudança. Em função disso, desde já ela carrega na boca e no gesto um mundo em agonia, moribundo, ao qual procura dar seus últimos espasmos de vida. Foi assim com instauração do voto para as mulheres, com o divórcio e o uso da pílula anticoncepcional, e antes com a queda das monarquias absolutistas, depois com fim da escravidão e da segregação racial. Todos esses acontecimentos, e, outros tantos, portavam, cada um ao seu modo, novas realidades e novos sujeitos que instauraram diferenças e deslocamentos significativos no repertório de nossas percepções e modalidades relacionais social e culturalmente institucionalizadas. Eles carregavam o hálito das novidades que atesta o definhamento de certas idéias, opiniões, pensamentos, práticas, e às vezes, de uma forma de vida inteira.

Hoje, em boa parte do mundo ocidental, os homossexuais já colhem os frutos de sua árdua luta pela conquista de um espaço social e político que pouco a pouco enterra velhas percepções. Ganham direitos e liberdades; suas práticas amorosas, desejos de união e a manifestação de sua sexualidade são inscritas, pela força das leis, num mesmo regime de igualdade que a dos heterossexuais, doa a quem doer.

A luta dos escamoteados e expropriados historicamente do espaço público e do espaço da humanidade, ainda que não logre êxitos totais, não deixa de produzir efeitos incontornáveis que, de certa maneira, reorganizam a vida e as relações segundo novas percepções e formas de equilíbrio e conflito. E, assim, o movimento que os conservadores tentam barrar persiste, avança. Quando baralho é demasiado é porque algo mudou para sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário