quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Os perigos do casamento entre o "falso moralismo e a política"



Todos já devem estar cansados e entediados do rumo fundamentalista e da ladainha beata pelo qual o debate eleitoral enveredou nos últimos dias. A discussão de temas polêmicos, como o aborto, por exemplo, é instrumentalizada de uma forma tão espúria, rasa e cheia de dedos, que a superficialidade e o interesse eleitoral dos candidatos tornam-se triste e exageradamente claros. Tudo é demasiado falso, demasiado forçado, demasiado hipócrita. Mas isso não é o pior.

Mesmo essa disputa para ver quem é o “fiel mais reto” aos olhos Deus (Povo) sendo uma chatice repetitiva e que, momentaneamente, vem fazendo do Brasil uma espécie de Estado Confessional, convém insistir e prestar um pouco mais de atenção ao que está ocorrendo, pois, como bem alertou o prof. Edmilson em seu blog, ela pode nos trazer conseqüências nefastas. Destaco duas:

A primeira das conseqüências incide diretamente no reforço de nossa imaturidade política. Em vez de pautar-se pelo aprendizado de determinadas disposições e posturas, tais como o distanciamento face às convicções privadas ou, pelo menos, de saber colocar estas entre parênteses quando se trata de questões públicas, as campanhas e debates eleitorais, neste 2º turno, caminham num sentido inverso. Portanto, os candidatos prestam um desserviço à sociedade e a eles próprios; eles alimentam a miséria e a imaturidade política da sociedade.

A segunda conseqüência nefasta desse  casamento, ou contrato, entre falso moralismo e política  diz respeito a produção, no seio da sociedade, dos partidos e da imprensa em geral, de uma cultura política inquisitorial de perseguição e difamação.

Dessa maneira, as competências, idéias e projetos que deveriam constituir o coeficiente real de avaliação dos políticos são solapados por uma vontade de saber moralista e pastoral que esquadrinha as opiniões, as crenças pessoais, os deslizes e a biografia dos candidatos. Uma cultura de escrutínio político à procura das pequenas faltas, dos pecados de opinião, dos erros familiares, dos maus e perigosos amigos, tudo isso que a Veja e outros veículos do PIG estão fazendo nas últimas semanas.

A lógica da suspeita e da difamação interesseira, o clima de patrulhamento moral e o ímpeto de caça às bruxas em nada contribuem para uma sociedade democrática coesa, madura e tolerante quanto às diferenças. Pelo contrário, não esqueçamos que as práticas mencionadas acima são típicas de regimes de exceção. Elas foram e continuam ser as principais armas utilizadas para estigmatizar e perseguir minorias. O desespero por votos não vale os riscos que estamos alimentando.



Um comentário:

  1. Quem tem acompanhado mais atetentamente a campanha presidencial e encontrado boas análises sobre o momento que passamos corrabora com tua inquietação. Alias, muito do que nos deparamos é de causar profundo mal-estar. Restará saber após sair o resultado das urnas como lidar com estas forças regressivas. E PIG? bem... Fica a provocação se aqueles desejosos de ver o direito à informação mais bem tratado não terão que superar certos discursos.

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