O segundo turno está aí. Muitos, como o autor deste blog, não o queriam, mas eleição e democracia - ainda bem – tem dessas coisas. Como era de se esperar, "onda verde" e "onda cristã" convergiram. O que não acho lá muito correto e sensato são as afirmações exageradas de que Marina ou a “magricela verde roubou” os votos de Dilma, impedindo que esta fosse eleita presidente do Brasil logo no primeiro turno, e, pior ainda, que ela e seus eleitores compactuaram com a direita, levando Serra ao segundo turno. Essas afirmações são totalmente descabidas e ofensivas, pois concebem os eleitores de Marina como uns idiotas incapazes de elaborar um juízo político necessário à identificação, segundo sua avaliação e reflexividade, com propostas, idéias ou o que quer que seja para eles considerado como relevante. Além do mais, tira a responsabilidade e a necessidade de uma auto-crítica das costas do PT.
Reduzir o desempenho de Marina nas eleições à ingenuidade dos eleitores “amantes da natureza”, à ignorância dos evangélicos ou, pior ainda, ao um anti-Dilmismo e ao um anti-petismo de ressentidos da pequena-burguesia, não é apenas um erro de avaliação e análise de grotesco generalismo, mas uma violência. Uma violência que nega ao outro a capacidade e o direito de refletir, de escolher seus candidatos com relativa autonomia e sob critérios, racionais e/ou irracionais, admitidos como relevantes. A desqualificação apenas encerra o debate numa trocas de estereótipos e pechas; veda a nós mesmos a possibilidade de entender os argumentos e as razões do outro para, aí sim, combatê-las. Para compreender o crescimento de Marina, convém lhe dá o devido crédito, mas, sobretudo, levar a sério as razões e os sentidos que conduziram tantos a optar por sua candidatura.
Eu tenho lá minhas pré-noções e críticas sobre o que julgo ser, de um ponto de vista típico-ideal, os eleitores de Marina, mas não é por conta disso que me esquecerei que a política envolve necessariamente um trabalho de imaginação e de reflexão, um esforço que implica, entre outras coisas, uma projeção de si mesmo sobre os outros, um processo de identificação que abrange as mais diversas disposições e sentimentos do sujeito e sua biografia. Não é por votar em Dilma e defender o projeto político-social do PT que vou adotar uma atitude de auto-complacência com relação a um tipo de violência que imputa sobre os outros desqualificações e pré-noções baseadas nas minhas crenças e valores ou por causa das diferenças e desacordo em relação a estas.
Eu tenho lá minhas pré-noções e críticas sobre o que julgo ser, de um ponto de vista típico-ideal, os eleitores de Marina, mas não é por conta disso que me esquecerei que a política envolve necessariamente um trabalho de imaginação e de reflexão, um esforço que implica, entre outras coisas, uma projeção de si mesmo sobre os outros, um processo de identificação que abrange as mais diversas disposições e sentimentos do sujeito e sua biografia. Não é por votar em Dilma e defender o projeto político-social do PT que vou adotar uma atitude de auto-complacência com relação a um tipo de violência que imputa sobre os outros desqualificações e pré-noções baseadas nas minhas crenças e valores ou por causa das diferenças e desacordo em relação a estas.
Esse tipo de “pensamento” é preocupante na medida em que busca conceber e definir o outro em termos unicamente negativos e segundo nossas convicções, alçadas ao status de medida final de toda avaliação. Desse modo, o processo é contaminado com desqualificações morais desnecessárias, hierarquias, convicções identitárias, dicotomizações, etc.. O voto e as eleições são reduzidos a uma questão de escolher o vencedor ou de optar entre lados opostos ao invés de ser a manifestação de vontades, de desejos e de idéias.
Além do mais, transformar o processo eleitoral numa disputa maniqueísta entre o bem e o mal, entre aqueles que representam e sabem qual é o melhor para o Brasil contra os ingênuos e os ignóbeis, que mais não fazem do que “atrapalhar o processo”, não me parece que seja saudável para uma democracia nem tampouco para o PT, que por meio desse discursinho das bases mascara suas falhas na campanha em convencer e cativar o eleitorado, bem como por não ter politizado e acirrardo o debate substancialmente. Afinal de contas, foi PT que, ao cair no jogo da oposição, conduziu os debates como uma disputa entre curriculos pessoais e promessas.
Nesse sentido, o melhor é agradecer, pois nem Marina nem o PV souberam aproveitar as brechas, que caíram em seu colo, nas últimas semanas do processo eleitoral, nem os erros do PT e a situação da direita. Imaginem só se as eleições fossem daqui a três semanas e se Marina tivesse uma formação política mais consistente, mais variada, mais técnica? Acorda PT!
As diferenças devem ser postas, na esfera pública, como questões endereçadas ao debate e à avaliação crítica e racional de todos, como uma forma de agitar as inteligências, como um treino para o aprendizado político em franco respeito à pluralidade de vozes e convicções. Uma democracia não pode se sustentar e se encarar como tal sem o reconhecimento a essas questões.
Ainda há tempo para que os presidenciáveis empreendam uma auto-crítica. Apesar do surpreendente resultutado eleitoral que Marina alcançou tentar aproximar-se de sua imagem não parece a melhor alternativa para politizar o debate. Principalmente quando se faz uma desqualificação (condenável e pouco inteligente como sublinhas) dos seus votantes e dos seus móbiles. Abraçar uma árvore de bíblia na mão não vai fazer sentido para nenhum dos postulantes nesse segundo turno.
ResponderExcluirTambém concordo que não é uma boa estratégia tentar se aproximar da imagem de Marina. Definitivamente, aparecerá como algo forçado, artificial e politequeiro. É bom deixar isso pra Serra.
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