quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Conservadorismo ataca! Uma democracia sem povo

Ontem, um punhado de personalidades liberais e tucanas lançou um "Manifesto em Defesa da Democracia" - leia na íntegra aqui. A ameaça à democracia? Lula e o PT, evidentemente. O assunto? A mesma e enfadonha ladainha, sem nenhuma substância relevante para um debate intelectual e político de fato; isso que torna os principais jornais e revistas do país tão desinteressantes.

Entre os ressentidos estavam juristas, atores, professores universitários da USP, jornalistas, artistas, enfim, os nomes de sempre; Celso Lafer, Ferreira Gullar, José Arthur Giannotti,  José Álvaro Moisés, Bóris Fausto, Leôncio Martins Rodrigues e Lourdes Sola e outros. Sob a aparência de um senso agudo de civismo, crítica e democracia o que se ler nas breves linhas do "Manifesto" é uma indisfarçável hipocrisia elitista e preconceituosa.

O ressentimento é devido ao fato do governo Lula ter retirado das elites tradicionais deste país a crença e a missão civilizatória que elas piamente se agarram como definidoras de seu caráter e de sua função histórica para o Brasil, a saber: de que elas representam a grande força de esclarecimento e progresso do país. Essa perda irreparável atinge implacavelmente o narcisismo de nossas classes abastadas.

Na cabeça dos temerosos tucanos e liberais, a democracia necessita ser protegida da turba, do aparelhamento, do clientelismo e do carisma de líderes demagógicos. Obviamente, deve ser protegida unicamente por aqueles que de fato e por mérito a compreendem em sua essência e pureza. Daí a onda de denuncismo atual. Para os “descontentes” liberais, o PT contaminou a democracia com um sujeito que até então, no Brasil, só existia nos cálculos do poder; o povo.

Mas o que querem esses “descontentes”? Por acaso, o governo suprimiu arbitrariamente alguma liberdade essencial? As relações entre o governo, o PT e o empresariado são marcadas por animosidades, antagonismo e interferência direta e unilateral? A imagem internacional do Brasil é de um país autoritário? Não.

O que as elites “descontentes” querem é que o povo volte a ser apenas um número, ou seja, algo que elas sabem que existe mas que é desprovido de corpo e voz. O povo mais não deve ser do que um nome e um registro eleitoral ou uma massa informe desprovida de idéias e habilidades cognitivas. O povo só interessa às elites como objeto de poder; objeto de filantropia e caridade, objeto de projeto social, objeto de políticas de segurança etc.. No governo Lula, o povo deixou de ser uma abstração. É isso que incomoda e aflige. Uma democracia sem demos é o que eles defendem.

2 comentários:

  1. Tu tens razão ao denunciar a relação do manifesto e o descontentamento da elite com a ascensão do povo. É surpreendente o que tem se tornado essa eleição. A incapacidade do canditado opositor em apresentar um discurso capaz de fazer frente à aprovação do governo Lula abriu espaço até para uma tentativa ridícula de impugnação da candidatura de Dilma sem qualquer fundamento. As teses e tipificações que tratam do PT e do governo por estes intelectuais são escabrosas e irresponsáveis. Será que os próprios acreditam naquilo que escrevem? Ainda que críticas sejam válidas para Lula pela desqualificação dos adversários mesmo quando estes se rebaixem. Este final de campanha está horrível, né? Tomará que esse anti-petismo apocalíptico saia de moda logo, afinal tanta gente gostaria de zoar seu colega petista por qualquer coisa menos séria.

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  2. Pois é, Thiago,

    Como a oposição não tem um discurso de contraposição ao governo, com criticas racionais, dados etc., que mostrem quais foram as deficiências e os erros do governo, a eleição e o debate ficam nessa ladainha moralista e no denuncismo irresponsável, ou seja, uma chatice nauseante.

    O anti-petismo é um sintoma da incapacidade da oposição em apresentar teses convincentes e embasadas para a crítica do governo.

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