quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nada especial ou quando não se tem nada a escrever



Algumas vezes não temos nada sobre o que falar ou escrever. Embora saibamos que há tanto à nossa volta; um mundo inteiro nos espera à apenas um modesto click do controle remoto ou do mouse de nosso computador. Certamente, um dos problemas parece residir no fato de não sabermos, com segurança e alguma convicção, por onde começar nem quanto tempo permanecer. A cada assunto ou tema a que nos detemos com alguma seriedade não lho concedemos mais do que alguns instantes, pois a amplitude e o leque de possibilidades que estaríamos a deixar de lado suscitam imediatamente em cada qual um sentimento de desperdício sufocante.

Quando nada temos sobre o que escrever isto não significa desmotivação ou falta de reflexão ou um espaço neuronal ocioso. Pois, em blogs, como se é tentado a dizer alguma coisa sobre quase tudo, assim como no dia-a-dia, é mais comum escrever e opinar desde nossa própria ignorância do que segundo nosso real saber. O famoso e eloqüente aforismo de Wittgenstein segundo o qual “sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar” não se aplica a esta janela aberta ao mundo, a este curioso canteiro de observações mais ou menos críticas, mais ou menos sociológicas, mais ou menos filosóficas, que são alguns blogs.

No momento, pergunto-me que autores, se vivos hoje, teriam um blog. Certamente, Walter Benjamin e Michel Foucault seriam alguns deles. O primeiro, como teórico dos novos meios da moderna cultura de massa e dedicado ao estudo do impacto destes na geração de novas formas de percepção coletiva, e além do seu estilo de expressão peculiar, fragmentário, sem dúvida alguma teria nos blog’s e em todas as redes sociais um campo de estudo e de expressão. O segundo, como é sabido por todos, foi um intelectual entusiasta e constantemente interessado por entrevistas e debates na televisão, artigos em periódicos não-especializados. Nem Benjamin nem Foucault eram filósofos da universidade. Viviam por suas idéias e escritos. Que autores mais pensa o leitor dedicar-se-iam a este ofício um tanto vulgar para os espíritos mais elevados que é escrever em blog’s?

Retornemos ao tema inicial. De fato, há muita sabedoria em calar-se, em preservar o silêncio, porém, é árduo fazê-lo. Como, pois, livrar-se das palavras se mesmo quando elas não escorregam de nossos lábios ainda aí não estamos em absoluto silêncio? Falamos, escutamos “nossas” palavras a todo o momento; quando lemos, quando sonhamos, quando estamos acordados, pensando ou parados. Os sons e as imagens de nossas palavras enroscam-se como serpentes sedentas em nosso cérebro, e daí não desgrudam. É que mesmo dentro de nós o mundo vibra por mais que desejemos correr com as cortinas, fechar olhos e não pensar; decidir não pensar. Descansar de nós mesmos é uma dádiva que deus algum nos legou. Só os remédios e o suicídio são capazes de tal.

Falamos não porque sabemos coisas importantes as quais temos que necessariamente comunicar e exprimir. Na maior parte das vezes e com exceção de alguns foros especiais, falamos por falar, não por causa do sentido e do valor dos argumentos a serem emitidos mas simplesmente porque ao falar o homem é, com efeito, este ser singular e banal que ele é; faz-se visível a si mesmo e aos outros, assegura-se de sua existência quando fala e percebe o efeito de sua fala sobre os outros e vice-versa. Perturbar a serenidade do silêncio é a maneira pela qual dirigimos e somos dirigidos até a vida; o barulho é o nosso enlace com o mundo e conosco. Uma vez no mundo, impossível permanecer em silêncio.



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