Uma das razões de criar este blog reside na aparente simplicidade de prosseguir a escrever. O que, com efeito, acredito, permite apoderar-se de uma sensação de liberdade necessária para aqueles, que não querem se ver sozinhos, de atuarem criativamente sobre sua solidão. Não me parece que desfrutar dessa encantadora liberdade seja uma vaidade, antes, trata-se, a meu ver, de uma forçosa exigência.
Ora, apesar da chamada blogosfera já está apinhada de gente envolvida nesta, já não tão nova, atividade, sua vastidão me faz crê que é perfeitamente suportável o acréscimo do peso de mais um indivíduo e mais algumas – qual seria a medida para avaliar, pesar, ponderar a matéria de tudo o que é produzido e criado no dito ciberespaço? – “toneladas” de textos, “informações”, ensaios etc. Afinal de contas, ao contrário da academia, os papéis, ou melhor, as árvores serão poupadas dessa “forçosa exigência” ou infeliz vaidade, que caracteriza a labuta diária dos que necessitam escrever.
Continuamente, este será um blog destinado a tentar produzir, aqui e ali, algumas sugestões de análise, lances de interpretação e possibilidades de diagnóstico referentes ao espetáculo maluco dos nossos dias. Não mais que insinuações a partir de algumas ferramentas das Ciências Sociais e da Filosofia, no sentido de alargar, o quanto possível, os horizontes por vezes tão estreitos e sem gosto das reportagens e coberturas mais correntes dos meios de comunicação hegemônicos, a propósito do que, atualmente, sucede-nos. Já que o autor do blog é algo que, digamos generosamente, assemelha-se a um sociólogo, confesso que há também aqui o desejo de satisfazer à curiosidade, ou melhor, de experimentar, de por à prova, àquilo que a teoria e os conceitos são capazes de criar em sua fricção positiva com a realidade, com os acontecimentos; o que pode ser dito, inferido, contraposto, recusado, desmistificado etc.
Mas por que fazê-lo aqui, em breves e trêmulas linhas, ao invés de restringir-se, e concentrar-se, exclusivamente, na – suposta - densidade e severidade que os espaços acadêmicos demandam? Por que não direcionar todos os esforços para o mundo das dissertações, das revistas especializadas, grupos de pesquisa, etc.? Talvez porque esse mundo, embora aprazível em muitas coisas, ao cada vez mais pressupor nossa submissão às esferas compartimentalizadas de competência no processo de produção intelectual, surpreenda-nos cada vez menos.
Cada escrito aqui, cada texto, guardam acasos que fazem das palavras, como nos diz os versos de Chico, palavras com:
“(...) temperatura, palavra que se produz muda, feita de luz mais de que de vento. Palavra boa. Não de fazer literatura, mas de habitar fundo o coração do pensamento, palavra”.
Esta suspeita encantadora, que me faz crê na imprevisibilidade de cada escrito, torna a tarefa de analisar e nomear os acontecimentos, isto é, de produzir interpretações uma tarefa perceptiva, que, segundo penso, tem nas Ciências Sociais um lugar privilegiado. Não apenas como um reservatório de aportes semi-acabados, grades de inteligibilidade que podem ser fundamentalmente pertinentes para a elaboração de posicionamentos mais consistentes e desafiadores a propósito da realidade e dos conflitos no quais estamos inseridos, mas, sobretudo, como uma matriz produtiva de novas possibilidades de compreensão. Experimentá-las num blog é como correr por outros caminhos e praticar a teoria social, com os pés na terra, também como uma prática da imaginação. Jogo tentador.
Parafraseando um famoso historiador – Paul Veyne – que um dia disse que a “História é feita para divertir os historiadores”, mas que, no entanto “seria mais agradável se divertir em companhias mais numerosas”, poderíamos também, creio, dizer o mesmo da Sociologia, da Filosofia etc. Portanto, se assumimos que a “Sociologia não valeria nem uma hora de esforço se fosse um saber de especialistas reservado aos especialistas” , então utilizar este espaço para pensar o que está a nos acontecer é também uma forma de buscar novas companhias. Pois bem, já me alongo por demais. Ao virtual leitor minhas boas-vindas, que possas nesse espaço encontrar algo que te agrade, te retempere, e que, às vezes, também encontre coisas que te decepcione.
A política do “lacre”: um fracasso em questão
Há 3 semanas
Texto interessante, polêmica aberta e erudição. Eis um blogue que se inicia prometendo coisa boa. Procurarei vir por aqui sempre que possível.
ResponderExcluirEdmilson Lopes.
Olá, prof. Edmilson, fico muito feliz e lisonjeado por sua presença. Saibas que seus comentários serão sempre recebidos com muita alegria e atenção. Seja bem-vindo!
ResponderExcluirTenho certeza que os leitores terão bons encontros com os temas, divagações e análises que serão postados nesse blog.
ResponderExcluirRodrigo Sérvulo.
Uma mensagem de afeto... apenas o que gostaria de formular ao amigo blogueiro. Não garanto visitas... estou atrasado, estou atrasado.
ResponderExcluirCaio é o coelho de Alice agora?
ResponderExcluirEm vez do despertador na mão, nosso coelho de alice carrega uma rabeca rápida, muita rápida. Seja bem-vindo Caio! Que bons ventos te tragam muitas vezes.
ResponderExcluirUma palavra caída da pressa, esquecida em nossos tropeços habituais, desmancha as mais intangiveis distâncias. Ora, existe um nó mais forte do que a palavra?