quinta-feira, 24 de junho de 2010

O que a extrema direita americana "pensa" sobre futebol

Para continuar em clima de Copa e dar umas boas gargalhadas, leia a reportagem abaixo e descubra bons motivos para torcer para seleção estadunidense de futebol:

O futebol é uma ideologia estrangeira que quer destruir a singularidade da cultura norte-americana. Os comentaristas conservadores dos EUA querem mais é que o USA Team seja eliminado logo na primeira fase. Tudo porque são contrários a entrada do esporte mais popular do mundo no país mais poderoso do globo.

“Não importa quantas celebridades o apoiam, quantos bares abrem mais cedo, quantos comerciais de cerveja eles veiculam, nós não queremos a Copa do Mundo, nós não gostamos da Copa do Mundo, não gostamos do futebol e não queremos ter nada a ver com isso”, declarou Glenn Beck, cuja opinião tem vaga cativa na Fox News, canal que sustentou a ferro e fogo a gestão do republicano George W. Bush e é opositora ao governo democrata de Barack Obama.

Beck chegou a comparar o futebol com o plano de assistência médica que Obama implantou no país. “O resto do mundo gosta de futebol, nós não. O resto do mundo gosta das políticas do Obama, nós não.”

A fúria da direita também se sente na voz elitista de Dan Gainor, analista do Media Research Center. “O futebol é um jogo de pobre. A esquerda está impondo o ensino de futebol nas escolas americanas, porque a América está ficando bronzeada”, escreveu, associando a popularidade do futebol acima do rio Grande com a crescente migração dos mexicanos para os EUA.

A teoria da conspiração encontrou eco em Matthew Philbin, ideólogo do centro de pesquisas de direita Culture and Media Institute. “A mídia liberal sempre se sentiu desconfortável com o fato de sermos únicos entre as nações, sermos líderes; e os esquerdistas são contra nossa rejeição ao futebol, da mesma maneira que são contra nossa rejeição ao socialismo”, fez a analogia, incomodado com a audiência dos jogos da Copa serem maiores que as finais da NBA, a típica e norte-americaníssima liga local de basquete.

“O que aconteceu com a singularidade dos Estados Unidos da América do Norte? Este esporte foi criado por índios sul-americanos, que, em vez de bola, jogavam com a cabeça de seus inimigos”, afirmou o radialista e ex-agente do FBI G. Gordon Liddy, confundindo a origem do futebol (Inglaterra) e as histórias de sacrifício humano das tribos da América Central e do Norte com as da América do Sul.

O radialista Mark Belling também entrou no coro contrário ao futebol. “Estão querendo enfiar goela abaixo essa modalidade. Mas não vou reagir criticando, porque os liberais agem da mesma forma de quando você insulta o cabelo de um senador do Partido Democrata. Não vou dar essa chance a eles.”


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Fonte: UOL

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A Copa do Mundo e os etnocentrismos



Já que inevitavelmente o assunto é Copa do Mundo, vamos, então, falar um pouco dela, ou melhor, um pouco sobre os estereótipos um tanto quanto etnocêntricos que, vez por outra, escapam dos lábios de alguns dos comentaristas esportivos que cobrem os jogos. Quem assistiu a algum jogo de alguma seleção africana deparou-se, certamente, com “análises” que denunciavam uma certa displicência tática dos africanos. Estes, a despeito de sua habilidade e força física habitual, são tidos como jogadores, em seu conjunto, que pecam por jogarem um futebol inocente, demasiado voltado a atacar e despreocupado com os aspectos mais racionalizados – táticos – do jogo. Tal qual os preconceitos e estereótipos pelos quais as populações africanas foram, por séculos, representadas, suas seleções são também definidas como seleções exóticas, formada por jogadores não-civilizados, isto é, não domesticados pela tática, inocentes ainda preso na “infância do futebol”; um futebol alegremente irresponsável, pueril, que desperta tanto nos espectadores como nos comentaristas ocidentais um sentimento de simpatia graças a sua originalidade ainda não corrompida pelo futebol moderno.

Nesse tipo de comentário delineiam-se as velhas oposições pelas quais negros – mas também mulheres e os índios – foram sistematicamente inferiorizados pelo pensamento ocidental; em lugar das disposições racionais, da razão e da mente, disposições ligadas ao corpo, em vez do cálculo a inocência, a espontaneidade. Dessa forma, dizem os especialistas em futebol, as seleções africanas não logram êxitos maiores porque não conseguem controlar racionalmente, isto é, taticamente, suas inclinações “naturais” para o ataque, por isso quando enfrentam seleções maduras, com frieza tática - o corolário futebolístico para autocontrole –, em Copas do Mundo, elas sucumbem apesar da habilidade e força de seus jogadores.

As seleções asiáticas, por sua vez, são também compreendidas em termos dos estereótipos pelos quais mormente percebemos seus habitantes. A ênfase aqui não é tanto o corpo e a inocência infantilizadora, como no caso das seleções africanas, mas as metáforas ligadas a sua organização administrativa - disciplina, obediência, hierarquia - e os atributos associados a sua economia e produtividade – velocidade, dinamismo, competitividade, inovação.

Sobre a Coréia do Norte, por exemplo, recaí os adjetivos mais voltados ao seu regime político; “jogadores esforçados, de disciplina férrea, que respeitam o árbitro e suas marcações, padrão militar de jogo, a seleção mais fechada etc.”. Os jornalistas esportivos faziam questão de ressaltar, com espanto e ironia, o fato dos atletas norte-coreanos treinarem num ginásio público enquanto as outras seleções desfrutam de ginásios privados em hotéis de luxo numa alusão depreciativa à penúria socialista. Uma seleção stalinista, decerto, pensam os jornalistas.

Japão e Coréia do Sul, além das figurações exaustivas a propósito da velocidade e vigor de seus jogadores, ressalta-se, em rigor, a humildade de seus atletas, despretensiosos em contraste com a ostentação e o gosto pelo excesso das estrelas do futebol mundial. Os propósitos de seus atletas são encarados da mesma forma que a imagem de simpáticos e bobos asiáticos de câmeras fotográficas à mão; turistas mais ou menos contidos.

Evidentemente, a mobilização desses estereótipos e pré-noções não visa apenas descrever as mencionadas seleções nem tampouco reafirmar o porque das seleções européias e sul-americanas serem melhores, mas seguramente também a superioridade distintiva dos atributos, valores e disposições pelos quais se constrói e se visualiza a auto-imagem que os ocidentais fazem de si mesmos.



segunda-feira, 21 de junho de 2010

Veja, Compare e Lastime









Embora as atenções estejam voltadas à Copa, é imprescindível conter um pouco a euforia e atentar-se ao abuso ideológico sutil, rasteiro, que se insinua aos nossos olhos e entendimento sem, entretanto, nos apercebermos de tal. As duas últimas entrevistas da revista Veja, as ditas páginas amarelas, são exemplares das artimanhas aparentemente inocentes da revista na construção das imagens dos concorrentes à eleição presidencial de outubro.

 Enquanto a imagem de Serra salta das páginas sob um fundo de uma biblioteca, repleta de livros, em uma imagem lúcida e cristalina, com óculos à mão num olhar que incide direta e ternamente ao leitor, Dilma, por sua vez, é exibida diante de um fundo escuro, vazio, sob uma meia-luz que pende sobre seu rosto, ocultando parte de sua face e conferindo ao seu olhar um sentido vago, perdido, desorientado. Seu sorriso é um sorriso de cínicos em um rosto assombreado, como que escondesse parte do conteúdo real de suas intenções.

A imagem do candidato do PSDB que estampa as páginas amarelas da Veja busca evocar e inspirar no leitor disposições e sentimentos que propiciem a identificação imediata de aspectos indispensáveis para a devida confiança no pretendente à presidência. Serra, em sua figuração na revista, evoca a maturidade, a seriedade, o autocontrole, a naturalidade, a estabilidade emocional, a auto-realização. Sua personalidade, virtudes e habilidades invadem a imagem. Não é a fotografia que captura algo de Serra mas este que, de forma à vontade, permite deixar ver despretensiosamente suas qualidades. Vemos um Serra que se compraz, com naturalidade, com o sentimento de sua própria importância e distinção gabaritada.

A candidata do PT vem à mostra nas páginas amarelas da revista em uma imagem desprovida de profundidade, de fato, Dilma emerge numa imagem desprovida de quaisquer atributos. Há apenas uma enorme mancha, um fundo escuro alusivo ao seu passado “guerrilheiro”, passado obscuro. Não há sequer Lula nem nada que lembre sua inevitável ligação com um projeto de governo cujos feitos inéditos foram mais exitosos do que qualquer outro. A intenção é fazer ver Dilma sozinha, como uma mônada flutuando sobre um abismo escuro, isolada de qualquer referência à Lula e ao sucesso do governo vigente. Trata-se de fazer ver quem é o indivíduo Dilma bem ao gosto liberal, descolado de suas relações de solidariedade, pertencimento e sua inscrição num projeto mais amplo. A única evocação em sua estampa é aquela que faz projetar sobre seu rosto a dubiedade, o mascaramento, o sorriso sardônico que convoca o leitor a sondar Dilma naquilo que ela parece não querer mostrar mas que tampouco consegue esconder.

A mentira é imoral não porque viola a verdade, mas por aquilo que, pretendendo ocultar, revela. Portanto, veja, pense e lastime.

sábado, 19 de junho de 2010

Pensar, pensar...

Eis o último post publicado por José Saramago em seu blog:


"Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma.".

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Adeus, Saramago...





"Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o sorriso de quem se reconhece
e viajou à roda do mundo infatigável,
porque mordeu a alma até aos ossos dela" (José Saramago).

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Copa do Mundo, a mobilização do espetáculo


Difícil, nesses dias, escapar de falar ou ouvir sobre futebol e copa do mundo. Impressiona a imensa mobilização. Basta ligar a televisão e ver a exibição de presidentes, políticos, artistas, atores, enfim, todos os que importam no mundo do espetáculo – ou seja, que aparecem – convertidos em torcedores fantasiados e eufóricos. Até o poder despe-se de sua seriedade e sisudez e vem chafurdar desinibido no mundo excitado e infantilizado do entretenimento global. O que, além da Copa do Mundo de futebol, pode mobilizar, em escala planetária, tamanha e distinta platéia? Paralisar todo tipo de atividade, exceto a do capital, reter todos os sentidos da atenção e as urgências do mundo em uma síntese máxima da globalização e do espetáculo vão, mas divertido?
O planeta e o agir humano midiaticamente mobilizado. Tudo parece parar. Nada na história humana, a não ser uma guerra ou catástrofe mundial, parece equiparar-se ao poder de mobilização da Copa do Mundo.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Juno





Em tempos de assassinatos e crueldades, de odiosas barbaridades e cinismo, necessitamos de algum ar vivificante que nos sopre nos nervos, suave como notas de uma harpa. Juno, deusa romana, radiando beleza, paixão e sabedoria a banhar com fulgor nossos sentidos. Que neste mês, ela faça brilhar nos olhos dos homens alguma benevolência.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Feridos do ataque de Israel denunciam a brutalidade do exército

El País

Ana Carbajosa

Em Ashdod (Israel)

"Me espancaram. Tenho o corpo arrebentado" , diz ativista. A porta-voz militar reconhece que o assalto ocorreu em águas internacionais, "mas quando um país está ameaçado tem o direito de se defender", alega.


Os feridos chegam um a um ao hospital de Ashdod, vendados e custodiados por dezenas de policiais de fronteiras enviados para os hospitais da costa israelense. Assim que os desembarcam à força dos navios no porto de Ashdod, os ativistas que tentavam romper o bloqueio de Gaza se transformam em imigrantes ilegais e ficam detidos. Para os que se negam a voltar voluntariamente a seus países, a maioria deles, depois da identificação começará o processo judicial que terminará com a deportação.

Chega uma ambulância. A nuvem de uniformizados corre a cercá-la. Os enfermeiros baixam uma maca sobre a qual está Paul Wilder, um americano de meia-idade com um olho roxo e ataduras em um braço. É o primeiro ferido que aparece diante do público. Os de maior gravidade foram levados de helicóptero diretamente dos barcos. "Me espancaram, tenho o corpo todo arrebentado, mas não me deixam mostrá-lo. Não sou violento. Essa brutalidade era desnecessária", proclama Wilder, aos gritos.

Apenas explica que viajava no barco grego Sfendoni, quando rapidamente os enfermeiros o levam às pressas. Uma hora depois chega um ativista marroquino, com o braço em uma tipoia e muito abalado; quase não levanta a cabeça. E depois um terceiro. Desta vez é um jovem grego com um protetor ao redor do pescoço. "São piratas", grita.

Na sala de espera da seção de emergência do hospital, os doentes comuns permanecem colados à tela de um televisor no qual o Canal 2 israelense dedica horas ininterruptas de programação à abordagem.

Nenhum desses três doentes viajava no Mavi Mármara, o maior barco e único no qual, segundo o exército israelense, ocorreram confrontos. Horas antes da chegada dos feridos, a porta-voz militar Avital Lebovitch afirmava: "Nos outros barcos não houve choques". Admitiu também a porta-voz que o assalto havia ocorrido em águas internacionais, "mas quando um país está ameaçado tem direito de se defender". Lebovitch fala em Jonah's Hill, a colina da cidade portuária de Ashdod transformada em um palco de televisão improvisado.

Uma nuvem de jornalistas de meio mundo pulula ao redor desse montículo do qual os oficiais dos tempos do mandato britânico avistavam os imigrantes ilegais judeus. Aproximar-se do porto, aonde durante a jornada vão chegando os barcos dos ativistas, está fora de questão. Esta jornalista foi escoltada pela polícia e expulsa do recinto portuário depois de uma tentativa frustrada de aproximar-se do lugar dos fatos.

É preciso conformar-se com os depoimentos de segunda mão que oferecem os diversos porta-vozes que vêm à colina oferecer sua versão. "Saíam do barco resistindo, fazendo força contrária", explica Shahar Arieli, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. Não é possível sequer se comunicar por telefone com os tripulantes detidos. Os celulares estão desligados. A falta de informação não afeta só os jornalistas. Os parentes dos ativistas também não podem falar com eles. Na segunda-feira não sabiam se seus filhos estavam vivos ou mortos. "A última vez que falei com meu filho foi às 5 e meia da manhã. Ele me disse: os barcos da marinha nos cercaram", conta Pninas Feiler, israelense e mãe de Dror, um conhecido ativista pró-palestinos estabelecido na Suécia. E acrescenta: "Estou preocupada com meu filho, mas também com meu país. Como se pode apertar o gatilho com tanta facilidade?"

Em Israel nem todos os cidadãos são tão críticos quanto Feiler à atuação do exército. Assim que se sabe do alcance da operação militar, cidadãos comuns saem à rua com bandeiras nacionais em sinal de apoio às forças armadas de seu país. Haim Cohen, um consultor econômico de 52 anos, é um dos que se orgulham de seus soldados. "Formam o melhor exército do mundo. Os do barco eram terroristas. Temos direito a nos defender. O Holocausto não acontecerá nunca mais."

Fonte: UOL Internacional